“Só Deus e eu sabemos realmente do quanto me arrependo de atos cometidos no passado. Tenho uma filha de um ano e sete meses, e infelizmente perdi muito do seu crescimento devido à minha reclusão, causada pelos atos errados. Sou adolescente, mãe, e tenho certeza que o futuro será muito mais positivo para a minha família”. Aos 19 anos, F.S.S. é uma das socioeducandas acolhidas pela Fundação Renascer do Estado de Sergipe a ser homenageada no próximo dia 12 de maio, Dia das Mães.
Cumprindo medida de regime fechado na Unidade Feminina (Unifem), em Aracaju, a jovem diz compreender a necessidade de repassar à filha os atos infracionais que juridicamente resultaram na sua reclusão socioeducacional. Em depoimento emocionado, F.S. reconhece o desrespeito às orientações apresentadas pelos pais, às leis, e o que ela chama de ‘erro’, ao ceder a estímulos apresentados por pessoas com as quais sequer mantém contato. Com possibilidade real de receber liberação judicial ainda neste mês das mães, a jovem desabafa.
“O erro foi meu. Fui imatura ao deixar de seguir os conselhos dos meus pais e optar pelos de pessoas que se passavam por amigos. Sei dos meus erros e muito me dói minha filha muitas vezes não me reconhecer; não me chamar de mãe. Sei que minha postura hoje é outra. Estou pronta para sair e trabalhar dia e noite para que minha filha, no futuro, não cometa os mesmos erros que cometi no passado”, declarou F.S. Ela comemora a possibilidade de liberação. “Esse é meu último Dia das Mães longe de minha filha. Daqui pra frente, a minha vida será marcada por amor e dias melhores”, diz a jovem, esperançosa.
A data especial tem sido de reflexão também para outras três adolescentes acolhidas pela Unifem, em fase gestacional. Entre elas, I. M., de 15 anos. Grávida de quatro meses, a socioeducanda é reincidente na unidade, após evadir enquanto cumpria medida em semiliberdade. Convivendo com a saudade diária dos pais, dos irmãos e demais familiares, ela diz sonhar com o acesso ao ensino superior, a conquista do primeiro emprego e uma vida social junto ao seu bebê.
“A vida me deu um baque de realidade. Em vez de ir à escola, acabei evadindo e depois de um tempo, a Justiça me mandou de volta para a Unifem. Dois dias depois de evadir, a diretora da unidade recebeu uma carta me liberando; no outro dia foi uma carta oferecendo emprego. Perdi tudo por bobagem. Me arrependo e hoje estou aqui, grávida, aguardando um filho, ou uma filha, mas com a certeza de que vou sair e nunca mais retornarei. Eu acredito no recomeço, por isso, sonho com uma faculdade”, disse.
Em meio aos inúmeros relatos de vida em conflito social, a diretora da Unidade Feminina, Silvia Resnati, garante que um trabalho socioeducacional que envolve pedagogos e psicólogos tem sido realizado diariamente com as adolescentes e familiares. Reconhecendo a necessidade de estreitar laços junto aos pais ou responsáveis, a gestora acredita em uma mudança de comportamento quando se trabalha a base familiar e o fator psicológico das crianças e dos adolescentes.
“Tudo muda com educação e acompanhamento especializado. Estamos em período especial, principalmente para as meninas que são mães, ou que estão gestantes. Temos conhecimento dos seus atos infracionais, lógico, mas evitamos evidenciar o que foi feito no passado. A nossa proposta é trabalhar o futuro, e é isso que é feito por cada um dos funcionários da Fundação Renascer. Refletimos juntas, e intensificamos nossas medidas em busca de um futuro mais promissor para todas”, declarou Silvia.
Em alusão ao Dia das Mães, algumas atividades estão sendo realizadas nas unidades da Fundação Renascer. Para esta sexta-feira, dia 10 de maio, está programada apresentação de peça teatral pelas adolescentes da Unifem; e da esquete “Maria da Penha – uma história de Luta”, pela Cia de Artes Alese [Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe]. Já no Case I, teve oficina de artesanato com os acolhidos na última quarta-feira, 08, para confecção dos presentes para o Dia das Mães.