Publicado em 15 de outubro de 2019 às 17:31.

Parceria entre secretarias de Estado e Universidade Federal leva cinema a adolescentes socioeducandos do Casem


Primeira edição exibiu o filme ‘Pantera Negra’, abrindo debates e a possibilidade da realização de oficinas na unidade

Estreou na Comunidade de Atendimento Socioeducativo Masculina, na última semana, o Cine Casem. O primeiro título exibido aos socioeducandos da instituição, com direito a pipoca e guaraná, foi a superprodução da Marvel, ‘Pantera Negra’. O filme traz um universo ambientado no ‘afrofuturismo’, mostrando aspectos da cultura do continente africano, tema que serviu para abrir o debate com os adolescentes. A ação é fruto da parceria entre a Fundação Renascer, que administra a instituição, com a secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura – Seduc, que trouxe o projeto já desenvolvido com o Núcleo Interdisciplinar de Cinema e Educação da Universidade Federal de Sergipe (NICE/UFS) na rede estadual de ensino: o ‘Cineclube nas Escolas’ – dentro da plataforma de Cinema e Educação Básica de Sergipe (CINEDS).

Os adolescentes já têm acesso a atividades artístico-culturais e de educação regular dentro do Casem. A maioria deles acaba de concluir um intenso programa de estudos, prestando o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Segundo a coordenadora do Núcleo de Projetos Criativos (NUPI) da Seduc, Virgínia Menezes, o CINEDS vem complementar esse trabalho. “Nós atendemos tanto de maneira planejada quanto por demanda e, aqui neste espaço, a arte a cultura são elementos importantes na ressocialização e na socioeducação, por isso estamos aqui, em uma somatória, no sentido de promover a cultura, uma reflexão crítica e desenvolvimento. Por isso, para nós é muito importante que a Seit [Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social] e a Fundação Renascer, através do Casem abram, esse espaço”, pontuou.

O diretor da Casem, Rodrigo Oliveira, conta que já havia a exibição de filmes na instituição, mas como forma de lazer e socioeducação. “Eles têm acesso à TV, mas os filmes aqui são escolhidos por profissionais da área para depois, além do filme que eles assistiram, eles trabalharem uma discussão a temática do filme. É uma coisa mais profissional. O projeto em si é trabalhar o cinema, entender o funcionamento do cinema, na parceria com a UFS e a Seduc. Nós temos 84 jovens aqui, todos participando, e tenho certeza de que alguns deles vão se interessar. Quando receberem a progressão de medida, quem sabe não poderão trabalhar nessa área?”, afirma.

Socioeducando há dois anos e nove meses na Fundação Renascer, o jovem D.M.S. não teve como assistir ao filme, lançado em 2018, nos cinemas. Além da novidade, para ele, todo projeto de educação e cultura aplicado ao Casem, é muito bem-vindo. “Eu achei legal, mas principalmente é uma oportunidade, porque não é sempre que as portas se abrem para nós, dessa forma. Que venham mais e mais oportunidades para a gente abraçar”. O adolescente até acredita que aprender cinema, para quem cumpre medidas socioeducativas, pode ser uma boa maneira de reintegração à sociedade. Ele conta que já tem traçada uma meta para o futuro. “Eu fiz a prova do Encceja. É provável que eu vá passar, e até dezembro vou estar na rua, e vou fazer o curso de Auxiliar de Plataforma”, conta, esperançoso.

Além do NUPI, o Serviço de Educação em Direitos Humanos (SEDH) e a Coordenadoria da Juventude (CJUV) da Seduc participam do ‘Cine Clube nas Escolas’. Na última edição, no Colégio Estadual Prof. Gonçalo Rollemberg Leite, de Aracaju, possibilitou a realização de quatro oficinas de produção audiovisual com os estudantes. “Na agenda de atendimento às demandas da juventude, a gente percebeu que havia uma lacuna ao que diz respeito à formação de linguagens, como a do cinema. Nos reunimos na Seduc e viemos conversar com o Casem. Alinhamos esse momento de aprendizagem um pouco mais lúdico, até porque eles tiveram uma agenda de estudo bastante intensa essa semana. A continuidade vai depender da adesão, da recepção, se eles de fato gostaram do que a gente resolveu oportunizar”, explicou Adriana Damascena, coordenadora do SEDH.

Mestre interdisciplinar em Cinema, Diogo Teles hoje atua como professor voluntário da disciplina Cinema, Educação e Direitos Humanos na UFS; para o curso de Cinema e Audiovisual e faz parte do NICE/UFS. “Esse projeto da plataforma CINEDS consiste em fazer a formação de estudantes com professores na área de Cinema. Futuramente, pretendemos manter a sessão de exibição de filmes e fazer essa oficina, com formação para o Cinema e Audiovisual, ou a implantação de um cineclube – tudo vai depender da resposta deles. Escolhemos o ‘Pantera Negra’, que tem mais a ver com os meninos, para que eles possam se identificar com a temática e render algum debate a partir das impressões deles”, concluiu.

|Fotos: Fernando Augusto