“Estou me sentindo muito feliz, realizado e aliviado por poder contar com o auxílio de um intérprete para me acompanhar, ajudando a quebrar as barreiras da comunicação”. Foi com um sorriso de satisfação que o jovem Everson Oliveira Paixão, surdo, procurou o serviço oferecido pela Central de Interpretação de Libras (CIL), que disponibiliza intérpretes especializados na Língua Brasileira de Sinais (Libras) em atendimento gratuito, no Ceac [Centro e Atendimento ao Cidadão] da Rua do Turista, de segunda a sexta-feira, das 07h45 às 17h45.
Everson conta que, por ser surdo, sempre encontrou barreiras para se comunicar. “Nós temos muita dificuldade com o português. Infelizmente, a grande maioria dos ouvintes não conhece a língua brasileira de sinais e tenta se comunicar comigo por meio de gestos que eu não entendo”, pontuou o jovem, que procurou o serviço pela primeira vez e solicitou ao intérprete da Central que o acompanhasse à Superintendência Regional do Trabalho, para tirar sua Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS.
De acordo com o último Censo do IBGE (2010), em Sergipe há 3.303 pessoas surdas; 20.033 pessoas com deficiência auditiva severa e 88.362 com alguma dificuldade para ouvir. Inaugurada há um ano e meio pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Inclusão, da Assistência Social e do Trabalho (Seit), a Central de Libras foi implantada com o objetivo de facilitar a comunicação dessas pessoas, fortalecendo a sua autonomia ao ampliar o acesso a informações e serviços por meio de três tipos de atendimento: presencial, virtual e “in loco”.
Presencialmente, no Ceac, os intérpretes fazem traduções e interpretações de Libras para a Língua Portuguesa. O mesmo serviço é oferecido de forma virtual, com as informações sendo prestadas através da transferência de imagem em tempo real entre os intérpretes da Central e os usuários via Skype [centraldelibras.se@hotmail.com ou centraldelibras.se02@hotmail.com]. O serviço mais procurado, contudo, é aquele em que o intérprete acompanha as pessoas surdas a bibliotecas, hospitais, delegacias, tribunais e outros locais de atendimento ao público. Basta agendar com antecedência no Ceac, pelo skype ou, com o auxílio de um amigo ou parente, pelo telefone (79) 3222-9447.
Inclusão e autonomia
Segundo conta o interprete Áquila de Jesus, que trabalha na Central desde a sua inauguração, são realizados cerca de 40 atendimentos por mês. Ele afirma que o serviço é de extrema importância para a comunidade surda e destaca a sensibilidade do Estado em ter esse olhar voltado para o acolhimento e inclusão do surdo. “Apesar da Libras ser a segunda língua oficial do Brasil, ainda são poucas as pessoas ouvintes que sabem se comunicar por meio dela. O surdo acaba se sentindo como um estrangeiro em seu próprio país, pois nem entende, nem é entendido”, analisa o intérprete.
Com o auxílio de Áquila, Everson esperou menos de trinta minutos para ter em mãos a sua Carteira de Trabalho, para poder buscar o seu primeiro emprego. “Fiquei bastante satisfeito, porque a comunicação aqui fluiu com facilidade. Nós, surdos, precisamos conseguir nos comunicar em todos os lugares: de empresas a locais públicos. Eu já enfrentei várias dificuldades – uma delas, em uma loja onde precisei fazer uma compra e o vendedor não conseguia me entender. A Central veio para facilitar nossas vidas”, frisou Everson.
A secretária da Inclusão Social, Lêda Lúcia Couto, afirma que as pessoas com deficiência são um público prioritário para a pasta e há planos de intensificar as atenções aos PcDs do estado. “É um público que necessita de forma determinante de inclusão social e, para isso, de oportunidades. Além da Central, temos no Núcleo de Apoio ao Trabalho – Sine/NAT um setor destinado ao atendimento exclusivo de PcDs, com oferta diária de vagas de emprego, além de dois grandes eventos anuais voltados exclusivamente para a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, em parceria com outros órgãos”, disse a gestora.
Sobre a elaboração de políticas públicas, a secretaria classifica como fundamental a participação dos PcDs na construção de diretrizes. “Nosso propósito é intensificar as políticas públicas de atenção a esse público, integrando-as com outras áreas do governo que atuam no cuidado social, tamanha é a importância, na nossa visão, da promoção de condições de cidadania plena para essas pessoas. Achamos muito importante, por isso, a interação com o Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, pela relevância da participação social no encaminhamento de ações para enfrentamento de quatro grandes eixos de atuação: acesso a serviços, combate à violência (preconceito), protagonismo e inclusão”, concluiu Lêda Lúcia.