Roda de Conversa com idosas do CRAS do bairro industrial discute ‘Violência Obstétrica’
Ainda repercutindo as atividades realizadas durante o Mês da Mulher, na programação ‘Todxs por Todas’, nesta quarta-feira, 10, mais uma roda de conversa sobre ‘Violência Obstétrica’ foi realizada no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Pedro Averan, no Bairro Industrial, em Aracaju. Convidada pela Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência Social e do Trabalho (Seit), a doula Cris Fernandes deu orientações a um público formado por cerca de 40 idosas atendidas no local, após a apresentação do grupo de samba de coco, as Cirandeiras.
Diferente de quando a atividade foi realizada no Bairro Santa Maria, onde o público era predominantemente de gestantes, desta vez, predominavam as mulheres acima de 60 anos. A elas, foram passadas informações sobre quais os procedimentos médicos e ambulatoriais que podem ser considerados violência obstétrica. Segundo a gerente de articulação de redes do departamento de Inclusão e Promoção de Direitos da Seit, Aline Soares, a proximidade entre a comunidade e o Hospital e Maternidade Santa Isabel e o pedido do próprio CRAS levou o tema ao grupo de idosas assistido.
“Pensamos em trazer o tema da ‘mulher no mercado de trabalho’, mas o que falar sobre isso para um grupo de mais de 40 idosas? Elas continuam mulheres e, na maioria das vezes, são elas que acompanham as parturientes das suas famílias no pré-natal e no dia de parir. Também são elas que ficam com essas crianças depois que nascem. Elas são multiplicadoras. É o que a gente chama de ‘educação de pares’, levando informação para mulheres que vão chegar às suas casas reproduzindo o que absorveram aqui a respeito da violência obstétrica”, destacou Aline Soares.
O educador social do CRAS Pedro Averan, Tiago Silva Passos, explica que, através do grupo das Cirandeiras, as idosas têm acesso a aulas semanais de educação física e ao serviço de fortalecimento de vínculos, sociais e educativos, participando de dinâmicas de grupo, oficinas de pintura e de bordado. “É uma necessidade abordar este tema. Muitas dão o sustento à família e fazem até os partos. Pelo que a gente acompanha, a gente vai identificando que ocorrem muitos tipos de violência”. Ainda segundo ele, todo final de novembro, a instituição organiza um evento aberto à comunidade na Rua de São João, onde o grupo folclórico de idosas já trabalhou os temas da violência doméstica e da violência contra a mulher no ambiente de trabalho.
Diagnosticada com depressão, Dona Didi – como é mais conhecida Maria José dos Santos Rodrigues, 75 anos – participa, como terapias, das atividades culturais desenvolvidas no CRAS, na Quadrilha Século XX (Bairro Industrial) e nos grupos da LBV. Ela conta que acompanhou muitos partos – só ela teve 15 filhos, sendo sete mulheres. A partir deles, vieram outros 102 descendentes, entre netos, bisnetos e tataranetos. Para ela, a violência obstétrica ocorre quando não respeitam quando a mãe diz estar pronta para dar à luz. “Com as filhas e netas, eu levo para a maternidade, quando demora eu fico insistindo. Tudo depende do médico. Eu mesma já tive um que disse que não era a hora, mas quando voltei para sala de espera, nasceu”, contou a Dona Didi.
“A gente, muitas vezes é taxada, nas maternidades, como ‘incompetentes’, como se nosso corpo não soubesse parir e, por isso, acabam provocando outras intervenções que não seriam necessárias se aquela primeira não tivesse ocorrido”, explicou Cris Fernandes. Ela é professora de Geografia na Escola Estadual José Amaral Lemos, em Pirambu, onde também faz acompanhamento de adolescentes grávidas em situação de risco, por ser doula, formada pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama) de São Paulo (SP). “Esse público aqui vai acompanhar essas gestantes, filhas e netas, muitas vezes menores de idade, ainda com o corpo em formação. Tendo essa informação, podem exatamente saber como acompanhar em casa o processo de gestação”, afirma.
Há um ano fazendo parte das Cirandeiras, Dona Jovina Santos de Jesus tem 60 anos, cinco filhos, 14 netos e dois bisnetos – um deles nascido há poucos dias de um parto que ela mesma fez em sua neta. Segundo ela, foram de grande ajuda as noções de saúde que ela aprendeu no encontro promovido no CRAS. “Já sabia de algumas coisas que ela estava falando, já passei, já sofri muito na maternidade por causa disso mesmo, e com minhas filhas eu já passei por disso também”. A dona de casa diz que está pronta para reconhecer os procedimentos alertados pela palestrante como sendo violências obstétricas. “Quando acontecer, já vou me lembrar que assisti na palestra de Cris”, conclui.
Fotos: Pritty Reis