Publicado em 26 de julho de 2019 às 17:52.

NegraMe debate representatividade e empoderamento das mulheres negras


Realizado pela Funcap no Centro de Criatividade, evento contou com lançamento do vídeo “Eu, Mulher Negra”

Fotos: Pritty Reis

O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, 25 de julho, foi marcado por reflexões, homenagens e pelo debate de temáticas que envolvem a luta do povo negro e a sua contribuição para a formação da cultura identitária e a memória coletiva. O NegraMe, programação especial realizada pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap/SE) reuniu, no Centro de Criatividade, pesquisadores, professores, artistas e estudantes em rodas de conversa, apresentações culturais e a exibição do vídeo “Eu, Mulher Negra”, produzida pela diretoria de Inclusão e Promoção de Direitos da Secretaria de Estado da Inclusão e da Assistência Social – Seit

O vídeo retrata, em pouco mais de cinco minutos, os relatos de mulheres sergipanas atuantes em diversas áreas: sociólogas, jornalistas, servidoras públicas, conselheiras tutelares, musicistas. Roteirizado e dirigido pela gerente de articulação de redes da diretoria de Inclusão e Promoção de Direitos da Seit, Raíssa Gomes, a produção audiovisual propõe um questionamento: “O que você diria para a menina negra que você foi?”. Segundo Raíssa, o objetivo é incentivar a escuta e o diálogo. “Fizemos o vídeo conversando com mulheres negras para saber a importância de falar sobre essa questão tão presente na sociedade. Só temos a agradecer a oportunidade de estarmos aqui ampliando esse debate”, pontuou.

A referência técnica de políticas públicas para Mulheres da Seit, Linei Pereira, destacou que a produção busca justamente tornar o debate e a reflexão sobre essas questões mais presentes no dia a dia. “Enquanto parceiros, trazemos um trabalho realizado em equipe e que nos oportuniza um momento para refletirmos sobre como combater as opressões ligadas diretamente às mulheres negras”.

A referência técnica para Povos e Comunidades Tradicionais da Seit, Iyá Sônia Oliveira, também reafirma a importância de se utilizar as mais diversas formas de comunicação para evidenciar e fomentar a ocupação de espaços pela população negra. “É necessário que a gente compreenda que temos mais de 52% da população declaradamente negra, de acordo com o IBGE. Que esta seja uma atividade dentre muitas que podemos desenvolver para evidenciar o que antes se chamava de minoria, mas que hoje se revela maioria. Que cada um possa estar dentro do processo de construção de uma sociedade diversa e mais igualitária, com pretas e pretos ocupando os espaços da sociedade”, defendeu.

Uma das mulheres negras que gravaram depoimentos no vídeo foi a presidente da Funcap, Conceição Vieira, que destacou, na exibição, a importância de levar o debate para os jovens. “Em nome das mulheres negras e latino-americanas, falo o quanto é importante podermos conversar com a força da juventude, que aspira conhecimentos e informações. A mulher negra traz uma história de centenas de anos de sofrimento. Muitas dessas mulheres eram princesas, rainhas, médicas, curandeiras religiosas, que foram separadas de suas famílias e trazidas como bichos. Enaltecer a mulher negra é ajudar a construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais feliz”, afirmou.

A exibição contou com a presença de alunos e alunas da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Juscelino Kubitschek e do Instituto Luciano Barreto Júnior. Para a jovem Letícia Santos, de 14 anos, o vídeo tocou na sua própria identidade. “Já sofri racismo na escola por meu cabelo ser crespo. Fui chamada de vários nomes e eu achava que, para eu me enquadrar na sociedade, tinha que ter cabelo liso. Mas, hoje, vejo que quem tem que mudar não sou eu, pois é assim que eu sou, essa é a minha identidade. Quem tem que mudar são as pessoas e passarem a respeitar as diferenças”, contou.

Para a produtora audiovisual Luciana Oliveira, co-idealizadora da Mostra de Cinema Negro de Sergipe (Egbé), a utilização das diferentes mídias e plataformas ajuda a difundir a temática e promover a educação. “O documentário foi bem bacana. Ver uma instituição governamental falar sobre esse tema é muito importante, não somente nesta data, mas também no cotidiano. O cinema tem um papel importantíssimo para a educação. Que o debate continue e cresça cada vez mais”, disse.

O evento foi idealizado pelo Projeto NegraMe, vinculado à Funcap, e contou ainda com roda de conversa sobre a trajetória das mulheres negras na América Latina e Brasil, além de apresentações do curta “Caixa D’Água: qui-lombo é esse?” e do grupo musical Afoxé de Odé. O Vídeo “Eu, Mulher Negra” traz fotografia de Pritty Reis; roteiro e direção de Raíssa Gomes, que contou com Linei Pereira, Sônia Oliveira e Adriana Lohanna na idealização e produção; além de entrevistas com Leana Santos, Aline Braga, Conceição Vieira, Silvânia Santos e Daniela Macedo; música de Jaque Barroso [Deusa Nagô]; arte de Marcos Ribas; e edição de Fernando Augusto. Confira: