Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 11:37.

Dia Nacional da Visibilidade Trans | SEIAS alerta para altos índices de violência e se une à luta por inclusão social


Militantes de Sergipe destacam a importância do dia 29 de janeiro para a comunidade LGBTQI+

Nesta quarta-feira, dia 29 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis, um marco na luta diária pela dignidade e cidadania de pessoas trans no Brasil, país que mais mata esta população, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU). A data foi criada em 2004, quando mulheres transexuais, homens trans e travestis foram a Brasília lançar a campanha nacional “Travesti e Respeito”, dando origem a manifestações e passeatas em todo o país. Para reafirmar a importância da vida das pessoas trans e a luta por seus direitos, a Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (SEIAS) convidou militantes da causa em Sergipe para falar sobre a importância da data.

“Ainda vivemos numa sociedade em que o gênero é determinado pelo fator biológico”, destacou a referência técnica LGBTQI+ da Diretoria de Direitos Humanos da SEIAS, Adriana Lohanna, mestra em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e militante pela causa das pessoas trans no Estado. “O Dia Nacional da Visibilidade Trans é um dia para repensarmos as políticas públicas para as pessoas transexuais e travestis, repensarmos a necessidade de visibilidade não somente social, mas também política, para inseri-las na sociedade. Precisamos discutir a questão da identidade de gênero, pra que as pessoas entendam que as pessoas trans são, sim, homens e mulheres, e não somos definidos pelo biológico. Somos cidadãs e cidadãos de direito”.

A expectativa de vida da população trans é de apenas 29 anos, destacou a presidenta da Associação das Travestis – Unidas na Luta pela Cidadania, Jéssica Taylor, militante na luta pelos direitos das travestis e transexuais em Sergipe. “Graças a Deus, eu e tantas outras já ultrapassamos a expectativa de vida estimada. Porém, muitas que já não estão mais aqui devem ser lembradas, pois elas também fazem parte de nossa luta. Se hoje estamos aqui, é porque alguém também lutou por nós. É por isso que esta data que é tão importante. Queremos mostrar para a sociedade que estamos aqui, lutando pelos nossos direitos e para lembrar das nossas conquistas, como por exemplo o nome social”, pontuou.

Outra grande militante pelos direitos da população trans em Sergipe também destacou a importância da data para mostrar à sociedade a exclusão social que assola esta população. “A data é importante por demarcar um dia necessário na sociedade brasileira, que ainda não aponta para uma vida social da nossa população. O Brasil tem números alarmantes de violência que colocam o país no topo de assassinatos de pessoas trans. Por causa da descriminação e preconceito, também temos um índice de evasão escolar muito grande. Precisamos que a visibilidade deste dia se reverbere cada vez mais no cotidiano, na promoção de políticas públicas para incluir a nossa população e transformar a nossa vida diária em uma vida social”, ressaltou Tatiane Araújo, presidenta da Rede Nacional de Pessoas Trans – REDE TRANS BRASIL e da Associação Sergipana de Transgênero (Astra LGBT).

O Estado de Sergipe é o primeiro do Nordeste e segundo do Brasil em números de assassinatos a pessoas transexuais e travestis no país, de acordo com publicação da Rede Trans Brasil, em 2019. O coordenador do núcleo de Homens Trans da Rede TransBrasil e integrante da Associação Sergipana de Transgênero (Astra LGBT), Cauã Ferreira, ressaltou a importância de buscar não somente o reconhecimento, como também o apoio de entidades civis e governamentais para reverter os altos índices provocados pela transfobia. O estudante de Serviço Social e fundador do coletivo de estudantes trans da UFS – Revolutrans, Miguel Alcântara, concordou: “É muito importante que haja a união entre o Estado e as entidades, pois precisamos fazer com que os nossos direitos sejam garantidos e para que a gente consiga, de fato, pôr em prática ações efetivas dos direitos humanos”.

A referência técnica LGBTQI+ da SEIAS, Adriana Lohanna, destaca ainda que a Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria de Inclusão Social realiza ações de interlocução com a população trans para a discussão de políticas públicas inclusivas. “Temos desenvolvido espaços de debate e de formação com movimentos sociais para discutir a pauta dos direitos da população LGBTQI+ em Sergipe. Durante o ano de 2019, tivemos diversas ações e projetos que buscaram dialogar com a visibilidade dessa população, como por exemplo a destinação de cotas para mulheres trans em cursos de formação em parceria com Instituto Aprecia e o Núcleo de Apoio ao Trabalho (NAT), e foi dado inicio à implantação do Conselho Estadual de Políticas Públicas para População LGBT, o qual retomaremos as discussões neste ano”, disse Lohanna.

Fotos: Pritty Reis

Arte: Marcos Ribas